Hercule Florence foi um dos pioneiros da Fotografia, na década de 1830, em Campinas, interior de São Paulo. As suas descobertas neste campo surgiram quando tentava encontrar técnicas de reprodução simples e eficazes, uma preocupação que já o levara à criação da Poligrafia.
É de 15 de janeiro de 1833 seu primeiro registro sobre a possibilidade de “imprimir pela ação da luz”. Em seus manuscritos o franco-monegasco revela já conhecimento das qualidades químicas do nitrato de prata, informação transmitida pelo amigo e jovem boticário Joaquim Corrêa de Mello, que trabalhava na farmácia do sogro de Hercule, Francisco Álvares Machado e Vasconcellos, médico e proeminente figura pública no Estado de São Paulo.
Clique para ampliar
Hercule Florence tinha já utilizado a câmara escura, dada a sua vasta experiência como retratista da Expedição Langsdorff e sua herança familiar artística. Nas suas primeiras experiências fotográficas, utiliza câmaras escuras rudimentares, construídas por si, e papel sensibilizado com nitrato de prata. Ao fim de quatro horas de exposição, obtinha imagens em negativo, em posição invertida e com uma relação escuro/claro contrária ao que pretendia. Por meio dessa técnica, de acordo com os seus manuscritos, produziu um registo do que via da sua janela, de um busto de La Fayette e da prisão de Campinas.
Destas primeiras imagens, em câmara escura, hoje apenas resta o testemunho escrito, pois os objetos fotográficos escureciam quando expostos ao ambiente. O desafio da fixação permanente e o objetivo de alcançar uma imagem direta levam Florence a testar outras possibilidades.
Em busca de uma imagem positiva, o inventor e artista-viajante tenta então a reprodução de desenhos em papel fotossensibilizado em contacto com uma matriz de vidro tratada com uma camada de fuligem, exposto à luz. Utiliza, pela primeira vez nestas experiências, além de derivados da prata, cloreto de ouro para a fotossensibilização do papel, uma inovação de que não há registo, até aqui, nas tentativas de outros percursores.
Hercule Florence desenvolve, entretanto, em estudos autodidatas de Química. Carl Wilhelm Scheele (1742-1786) e Jöns Jacob Berzelius (1779-1848) seriam algumas de suas principais referências. É possível que tenha sido nestas leituras que ele tenha compreendido o potencial da amónia para resolver um dos maiores problemas dos primórdios da Fotografia: a fixação duradoura das imagens.
Florence experimentou fazer o tratamento das cópias produzidas por contato com a própria urina e, mais tarde, com amónia. Os seus testes têm sucesso, e algumas de suas imagens perduram. Chama a esta invenção “fotografia” e justifica a denominação escolhida em textos datados de abril de 1833, seis anos antes da utilização do termo pelo inglês John Herschell e do anúncio do daguerreótipo por François Arago, em França, em 1839.
Estas provas fotográficas, de desenhos de rótulos de farmácia e de um diploma maçônico, sobrevivem até hoje, quase dois séculos depois da sua criação. Os objetos estão entre as imagens fotográficas mais antigas conhecidas no mundo inteiro.
BIBLIOGRAFIA INDICADA: