leituras notícias ihf

hercule florence

Especialistas internacionais analisam alguns mais antigos artefatos fotográficos que sobreviveram até hoje

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Quatro instituições de três continentes se uniram para explorar a obra do artista e inventor

Um grupo de cientistas, pesquisadores e estudiosos analisou três artefatos fotográficos produzidos nas Américas e que sobreviveram até hoje. Considerados como alguns dos primeiros criados no mundo, são obra de Hercule Florence, artista e inventor do século XIX. Este trabalho lança uma nova luz sobre uma das muitas mentes curiosas que se empenharam para criar as primeiras imagens fotográficas duradouras.

Desenho do diploma maçônico em análise no Laboratório HERCULES, em Évora, Portugal. 
Foto: Jorge Simão / Divulgação 

Mesmo as imagens tendo sido criadas com um objetivo prático, elas representam um avanço na fotografia antiga. Florence pode reivindicar estar entre os primeiros inventores a produzir fotografias por meio da impressão química de imagens através da ação da luz. 

A pesquisa foi apoiada pelo Getty Conservation Institute em Los Angeles, o Laboratório HERCULES da Universidade de Évora, Portugal, o Instituto Hercule Florence (IHF), em São Paulo, Brasil, e o Instituto Moreira Salles (IMS) no Brasil. 

“O que Hercule Florence realizou é realmente uma pré-história da fotografia”, diz Art Kaplan, cientista adjunto do Getty Conservation Institute. “Ele estava um passo à frente, empregando certos elementos comumente usados no processo fotográfico. Acredita-se que as fotografias analisadas sejam as únicas sobreviventes desse período.” 

Fotografia do rótulos de farmácia em posse do IHF
Foto: Érika Beraldo / Divulgação 
 

A discussão sobre os primeiros experimentos fotográficos é dominada por nomes como Nicéphore?Niépce, Louis Daguerre e William Henry Fox Talbot. Neste momento, porém, no século XIX o mundo também estava de precursores investigando ideias científicas semelhantes e realizando seus próprios experimentos inovadores. Entre elas estava Florence, um europeu de origem franco-italo-monegasca que se estabeleceu no Brasil e levou uma vida eclética como inventor, desenhista, pintor, tipógrafo e naturalista. Os descendentes de Florence preservaram muito do seu legado, seja no IHF ou em coleções particulares. 

Ao longo da década de 1830, uma das preocupações de Florence era produzir imagens em massa sem a necessidade de um artista, como evidenciado pelos experimentos e processos químicos que ele detalhou em seus diários. Como muitos nessa época, Florence teve dificuldades para evitar que uma imagem fotográfica continuasse a escurecer quando exposta à luz, com vários graus de sucesso. Para conseguir isso, ele utilizou água e até urina. 

Em 1833, Florence documentou um experimento em que escureceu um pedaço de vidro, gravou desenhos nele e colocou o vidro sobre uma folha de papel sensibilizado com nitrato de prata. Esse método evitou que toda a superfície do papel escurecesse e manteve a imagem intacta, criando uma imagem positiva em vez de negativa. Acredita-se que ele usou este ou um processo semelhante para criar os três objetos fotográficos estudados– uma borda decorativa para um diploma maçônico que possivelmente foi feito com nitrato de prata ou cloreto de prata, do acervo do IHF, e dois modelos de etiquetas que foram possivelmente feitos com cloreto de ouro e usados para rótulos de remédios, um pertencente ao acervo do IHF e outro ao acervo do IMS.  

Para verificar se Florence utilizou estes processos, as imagens foram examinadas no Laboratório HERCULES por um grupo de especialistas em conservação liderado por Art Kaplan, cientista adjunto do Getty Conservation Institute, e António Candeias, professor do departamento de química e bioquímica e pesquisador sênior do Laboratório HERCULES da Universidade de Évora. 

Esta pesquisa é um passo importante para o IMS, que tem em seu acervo uma das fotografias de Hercule Florence”, disse Millard Schisler, gestor de acervo do Instituto Moreira Salles. “Podendo usar as técnicas aplicadas neste projeto, agora também abrimos portas para novos estudos científicos de peças de nossa coleção e para o conhecimento que isso traz para todos nós.” 

As três imagens foram estudadas usando várias técnicas analíticas. Os cientistas usaram fotomicrografia para ver detalhes minuciosos, descobrindo que o papel usado para criar as imagens era semelhante ao encontrado nos materiais de arquivo existentes de Florence. A fluorescência de raios-X foi capaz de identificar prata e ouro como os metais de produção de imagem (prata no diploma e ouro nos rótulos dos remédios). A análise ATR-FTIR identificou maior quantidade de proteína nos rótulos dos remédios, possivelmente indicando a presença de urina. 

Os especialistas continuarão analisando as obras de Florence, na esperança de obter informações adicionais e uma melhor compreensão de suas primeiras inovações.   

“Para o IHF era uma prioridade conhecer a composição dos artefatos fotográficos de Hercule Florence para poder preservá-los por mais 190 anos”, afirma Francis Melvin Lee, pesquisadora superintendente do IHF. 

O estudo contou ainda com a colaboração do acadêmico norte-americano Grant Romer; da pesquisadora mexicana Ariadna Romer; dos professores brasileiros Boris Kossoy e Márcia Rizzutto, da Universidade de São Paulo; dos pesquisadores Millard Schisler (responsável pelo acervo), Sergio Burgi (coordenador de fotografia) e Guilherme Dias, do Instituto Moreira Salles; e da pesquisadora responsável Francis Melvin Lee, do Instituto Hercule Florence. 

Para saber mais sobre as análises assista ao vídeo produzido pelo IHF aqui! 


leitura recomendada

Ensaios e Reflexões | Processo fotográfico

Hercule Florence: pioneiro da fotografia no Brasil

“Não teria eu iniciado a arte mais do que maravilhosa de desenhar qualquer objeto, sem dar-me ao trabalho de o fazer com a própria mão?” Hercule Florence, 24 de junho de 1833

Notícias IHF | evento

IHF e IMS realizam seminário sobre Hercule Florence

Evento contará com apresentação dos resultados da pesquisa científica que comprovam suas conquistas pioneiras

Notícias IHF | seminário

Art Kaplan, Antonio Candeias, Grant e Ariadna Romer abordam ciência e tecnologia

Tarde do primeiro dia do evento reuniu especialistas que estiveram em Évora, Portugal, para a realização das análises físico-químicas dos objetos fotográficos de Hercule Florence



voltar

Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.
ACEITAR
Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.
ACEITAR