Maria Inez Turazzi analisa em artigo o pensamento e a prática de Florence através da noção da “arte de inventar”.
O número atual da Photographica, revista publicada pelas Éditions de la Sorbonne, é dedicada à celebração do bicentenário da invenção da fotografia, que acontecerá na França entre 2026-27.
O conteúdo da edição propõe uma reflexão historiográfica das origens dessa invenção e das histórias e personagens relacionados a ela, tendo como ponto de partida a primeira fotografia de Niépce, datada de 1826-1827, porém ampliando o conhecimento sobre os seus primórdios para outras formas de pensar e descentralizando-os de sua origem europeia.
Em seu artigo para a revista, Maria Inez Turazzi, especialista em história da fotografia e pesquisadora do Instituto de História da Universidade Federal Fluminense, analisa o pioneirismo de Hercule Florence como inventor do processo fotográfico no Brasil, abordando o pensamento e a prática do artista através da noção da “arte de inventar” no século XIX.
A autora se baseia nas ideias de Gottfried Wilhelm Leibniz, em seu Discurso sobre o método da certeza e a arte da invenção para acabar com as disputas e fazer grandes progressos em pouco tempo (1688-90), que se tornou a pedra angular de uma nova visão sobre o progresso científico e as atividades inventivas, e foi uma referência para Florence.
Para ela, “Florence se viu em uma posição particular que lhe permitiu apreender até que ponto ‘a arte de inventar’ era atravessada por disputas culturais e políticas. Essa consciência moldou sua percepção crítica das formas de validação social da prática inventiva. Também desempenhou um papel no desenvolvimento da imagem que ele construiu de si mesmo e do inventário em geral”.
Turazzi afirma que esta abordagem abre uma oportunidade de colocar a história do artista-inventor em um contexto mais amplo, removendo-a das narrativas nas quais ele é às vezes aprisionado.
Ela destaca entre suas fontes de referência, além dos escritos autobiográficos de Florence, como o L’ami des arts livré à lui-même, obras biográficas como Cartografia migrante, de Chiara Vangelista, ambos publicados pelo IHF.
Leia o artigo completo aqui:
https://journals.openedition.org/photographica/3761
“Não teria eu iniciado a arte mais do que maravilhosa de desenhar qualquer objeto, sem dar-me ao trabalho de o fazer com a própria mão?” Hercule Florence, 24 de junho de 1833
A vida de Hercule Florence no contexto migratório do século XIX