hercule florencecolégio florence

Foi só a partir de 1827 que a educação brasileira passa a ser permitida por lei também para mulheres. Até então, as que não tinham poder econômico exerciam trabalhos pesados, que aprendiam no dia a dia com os mais velhos. Já mulheres financeiramente abastadas aprendiam afazeres domésticos e regras de boas maneiras com professoras particulares vindas da Europa.

Somente em meados do século XIX que a participação feminina na educação, timidamente, engrena. No ensino público e gratuito, elas passaram a poder frequentar “as escolas de primeiras letras” do Império, mas a primeira grande lei educacional do Brasil determinava que meninos e meninas estudassem separados e tivessem currículos diferentes. As escolas particulares, muitas delas religiosas, o estímulo da educação estava na assimilação e dogmas, rezas, abnegação e santificação da mulher.

Foi neste contexto, de transformações profundas na educação do Brasil oitocentista, que Carolina Krug Florence fundou o Colégio Florence na cidade de Campinas (SP).

Carolina nasceu em Kassel, Alemanha, em 21 de março de 1828. Filha de um fabricante de mosaicos em madeira, João Henrique Krug e Elizabeth Debus Krug, ela valorizava a educação e tinha por ideal ser professora. Iniciou seus estudos aos seis anos e até os quatorze cursou a Escola Ruppel, na Alemanha. Ao terminar o curso superior mudou-se para Suíça para frequentar o Instituto de Madame Niederer, onde teve a oportunidade de conhecer melhor o método de Pestalozzi (já considerado, à época, como uma figura importante da Pedagogia) e vivenciá-lo na prática. Em 1848, Carolina volta para Alemanha e passa a lecionar em uma escola para moças.

Da esquerda para a direita: Isabel Florence, Carolina Krug e Augusta Florence.

Da esquerda para a direita: Isabel Florence, Carolina Krug e Augusta Florence.
Acervo IHF.

Em 1852, seus pais decidem juntar-se ao filho mais velho, Jorge Krug, estabelecido em Campinas desde 1846. Carolina embarca então para o Brasil e, após dois anos de sua chegada, casa-se com um amigo de seu irmão mais velho. Era ele Hercule Florence, viúvo de Maria Angélica Machado Florence, com quem se casara em 1830 e com quem teve treze filhos.

A vontade de Carolina em criar um estabelecimento no Brasil, nos moldes em que havia frequentado na Europa, a acompanhava desde os tempos de sua mudança para a América. Passados nove anos do casamento com Hercule e apoiada por ele, a educadora funda em Campinas, em 3 de novembro de 1863, o Colégio Florence, localizado em um prédio cedido pelo irmão, Jorge Krug, na Rua da Flores, 24 e 26 (atualmente Rua José Paulino).

Documentos relacionados ao colégio evidenciam a influência do método Pestalozzi na instituição. Cartas de pais, alunos e professores mostram que a família, por exemplo, era o centro da educação. A relação que se criava no colégio, entre os diversos membros que o compunham, era de respeito mútuo, visando a cooperação de todos.

A vida em comum entre professores e alunos se objetivava nas atividades do cotidiano. Ao contrário dos colégios religiosos do mesmo período, em que as alunas tinham, na maioria das vezes, apenas freiras para ensiná-las, no Colégio Florence o contato com o mestre do sexo masculino favorecia uma educação mais voltada para a realidade social a que estavam inseridas.

Colégio Florence, Campinas. Autoria Desconhecida, Óleo sobre tela.

Colégio Florence, Campinas.
Autoria Desconhecida, Óleo sobre tela.
Acervo Museu Paulista

Outro aspecto pedagógico que o diferenciava das instituições particulares religiosas era o de ser um espaço de aprendizagem da vida cultural. Contrariamente aos internatos religiosos, onde o estímulo à educação se encontrava na assimilação e dogmas, rezas, abnegação, santificação da mulher, o Colégio Florence, por ter sido laico, tratava suas alunas como mulheres para viverem no espaço privado e público.

Além disso, Carolina procurava absorver dos novos métodos que foram surgindo, contribuições para a melhoria do ensino. Permitia assim, que o corpo docente da instituição elaborasse seus programas de ensino livremente. A abertura às ideias que chegavam com novos professores sempre foi bem recebida e o papel do professor implicava numa maior flexibilidade do colégio.

Desde o início, Carolina Florence procurou ter em seu estabelecimento professores qualificados, tanto os nacionais quanto os estrangeiros. Entre os docentes que passaram pelo lá destacam-se Hercule Florence, Rangel Pestana, João Kopke, Emílio Giorgetti, Armelina Lamaneres, Leonor Gomes, Ana Krug Kupfer, Augusta e Isabel Florence, entre outros.


A Educação Feminina Durante o Século XIX O Colégio Florence de Campinas 1863 – 1889

"A Educação Feminina Durante o Século XIX O Colégio Florence de Campinas 1863 – 1889" surgiu dos resultados apresentados na dissertação de mestrado, defendida em 1987, pela Professora Arilda Ines Miranda Ribeiro, “A Educação da Mulher no Brasil-Colônia”. Neste livro, Arilda resgata a história do Colégio Florence e de sua fundadora,Carolina Krug Florence. Baixe o PDF da segunda edição, financiada por membros da família Florence, para ter acesso à obra completa.

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