Foi logo após seu estabelecimento em Campinas (SP) que Hercule Florence deu início às suas investigações na área gráfica, as quais culminaram com a descoberta da poligrafia (1830) e da fotografia (1833).
Não lhe interessaram, entretanto, somente as experiências com as imagens multiplicadas – Florence também se dedicou às imagens únicas, obtidas através da pintura e seus desdobramentos.
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Ocupado com a rotina de trabalho na loja do sogro, Francisco Alvares Machado de Vasconcelos (1790-1846), Hercule Florence não podia dedicar-se à pintura – mas isso não o impediu de idealizar e desenvolver entre 1830 e 1844 seus Etudes de ciels, à l'usage des jeunes paysagistes, ou Atlas ou Teatro Pittoresco-Céleste, um amplo catálogo onde reuniu “os mais lindos, os mais brilhantes e os mais variados” (manuscrito L'Ami des Arts livré à lui-même, pág. 92) céus, nuvens, formas, cores e efeitos causados por condições climáticas, horas do dia e diferentes atividades humanas, como as queimadas, para servir a artistas como base para suas composições.
Em seu L'Ami des Arts (págs. 5-7 e 89-106) Hercule Florence descreve com detalhes 22 estudos de céus, identificando local, data e hora de sua representação. Acrescenta que não se trata de um catálogo definitivo, mas uma pequena coleção.
Hercule Florence reconhece que o interior da província de São Paulo, apesar de sua vida pacata, desinteressada de assuntos artísticos e distante dos grandes centros, permitia vistas longínquas impossíveis a um artista que residisse em meio às construções e à movimentação das cidades.
Seu isolamento periférico em relação à Europa se torna uma vantagem: “é nas grandes cidades que menos vemos o céu” (no original, “c'est dans les grandes villes que l'on voit moins le ciel”, pág. 91).
Seus estudos de céus procuravam driblar a rápida sucessão de estações do ano, condições climáticas, nuvens, cores e “estados da atmosfera”; a memorização da cena pelo artista; o registro urgente na tela; os dias encobertos, em que não se via o céu; e a impossibilidade prática dos paisagistas de irem a campo aberto.
BIBLIOGRAFIA INDICADA: