As pesquisadoras Lilia Moritz Schwarcz (Universidade de São Paulo) e Chiara Vangelista (Universidade de Gênova) participaram da programação do Simposio Internacional Latinoamericanistas a dos bandas: Um ejercicio de parejas transatlánticas, em fevereiro de 2025, apresentando o tema Os guias. Pessoas visíveis e invisíveis nos relatos de viajantes (Brasil, início século XIX).
Lilia Schwarcz discorreu sobre as práticas e técnicas realizadas por naturalistas e instituições estrangeiras no Brasil, sobretudo no contexto do reinado de Dom João VI e da abertura dos portos em 1815, destacando o lugar dos guias e ajudantes nas expedições naturalistas que, na retórica viajante, aparecem em relatos pautados pela ideia de um sujeito ausente.
A pesquisadora ressaltou a importância dos guias para a produção do conhecimento, já que eram eles que abriam as picadas, garantiam a passagem pelos rios, indicavam os caminhos e explicavam a culinária e a geografia local, além de caçar as aves e os insetos, coletar e descrever as plantas que eram levados para as coleções e museus estrangeiros.
Chiara Vangelista, por sua vez, tratou de dois viajantes do período que dedicaram sua atenção aos guias: os artistas Jean-Baptiste Debret (1768-1848), integrante da Missão Artística Francesa, e Hercule Florence (1804-1879), desenhista da expedição Langsdorff.
Debret, em seu Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, apresenta pelo menos cinco pranchas relacionadas ao tema das viagens, sendo que três delas se referem claramente aos viajantes europeus e seus acompanhantes, mostrando distintas tipologias: o intermediário que leva os viajantes para dentro de uma aldeia, o canoeiro indígena, os caçadores e os naturalistas.
Já no manuscrito de Florence, Voyage Fluvial du Tiété à l’Amazonie (1826-29), há 15 desenhos e rascunhos dedicados aos guias e aos camaradas, o que demonstra a sua observação participante e uma mirada fotográfica (que ele experimentaria futuramente na invenção do processo fotográfico). “Graças à escrita de Florence”, afirma Chiara, “temos notícias detalhadas não só das tarefas da tripulação, mas também de suas ações e do dia a dia dos acompanhantes”.
Publicado somente em 1875 na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, com tradução do Visconde de Taunay, o Voyage Fluvial acabou se tornando o único documento completo sobre a Expedição Langsdorff.
Chiara ressaltou a importância da nova tradução do Viagem Fluvial do Tietê à Amazônia, publicada pelo IHF (2023), em comparação à de Taunay. Ao transformar o texto em um relato científico, adequado ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Taunay cancelou onze passagens referentes aos guias e trabalhadores do mato, além de reduzir o conteúdo de outras, minimizando a presença dos acompanhantes.
Assista ao vídeo completo com a fala das duas pesquisadoras:
O Simposio Internacional Latinoamericanistas a dos bandas: Um ejercicio de parejas transatlánticas foi organizado pelo Instituto Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas Latino-Americanas (INDEAL) da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires (FILO-UBA), pelo Departamento de Língua, Literatura e Cultura Estrangeira da Universidade Roma Tre e pelo Centro Cultural Paco Urondo. O evento reuniu pesquisadores italianos e sul-americanos para abordar temas e autores sobre a América Latina e foi transmitido pelo canal do YouTube do Centro Cultural Paco Urondo.