Aimé-Adrien Taunay e sua jornada interrompida: uma das trágicas passagens da Expedição de Langsdorff foi descoberta por Hercule Florence em fevereiro de 1828.
A longa jornada de uma das mais importantes expedições científicas que cruzou o Brasil no século XIX foi repleta de aventuras, dramas e tragédias. No livro Bastidores da Expedição Langsdorff, os autores Maria de Fátima Costa e Pablo Diener, afirmam que essa viagem foi, sem dúvida, das mais conturbadas dentre as expedições que visitaram o Brasil no início daquele século.
Confira o mapa interativo da Expedição Langsdorff
Uma das trágicas passagens da viagem fluvial foi descoberta por Hercule Florence há exatos 194 anos, quando o artista e inventor recebeu uma carta do botânico alemão Ludwing Riedel relatando o falecimento por afogamento no rio Guaporé do artista-viajante e companheiro de viagem, Aimé-Adrien Taunay.
Segundo Costa, especialista em Langsdorff e Aimé-Adrien Taunay, no artigo “Aimé-Adrien Taunay: uma trajetória incompleta”, publicado no e-book “Museu Paulista e as memórias das narrativas de Aimé-Adrien Taunay e Hercule Florence”, a morte de Taunay é rodeada de mistério: acidental ou planejada?
“Menos de um mês depois, antes até que os seus interlocutores pudessem receber aquela missiva, o jovem seria tragado pelas caudalosas águas do Guaporé, ao tentar – em meio a uma tempestade amazônica – atravessar aquele rio a nado. O ato intempestivo de se atirar nas águas do Guaporé, com toda a roupa que trajava – como o fez –, espelha com nitidez a angústia incontida que o carcomia intimamente e acabou por ser o seu match point”, diz no artigo.
E completa: “Não surpreende que em meio ao angustioso desespero, tal como o jovem Werther, de Goethe, tão em voga em seu tempo, associasse amor à morte. Entretanto, o rompimento com Guilhermina e os conflitos com Langsdorff podem ter sido a gota d’água que levou o balde a transbordar. Seria a linha de chegada para um sentimento de vazio que ele vinha cultivando há algum tempo, antes mesmo de conhecer o barão e adentrar em sua expedição?”.
Em seu manuscrito “Voyage Fluvial du Tiete a l’Amazonie”, contida no texto autobiográfico “L'ami des Arts livré à lui-même”, Hercule relata: “Dia nefasto, marcado pela mais triste notícia. Uma carta de Mr. Riedel anuncia que Mr. Taunay se afogou no rio Guaporé, em Vila Bela. Uma desgraça tal nos cobre de consternação, vários habitantes da cidade vêm para apresentar seus pêsames. Esse jovem, cheio de talento para a pintura, pertencente a uma família muito distinta, teria feito uma brilhante carreira. Uma morte prematura, aos 25 anos, o arranca às artes e à família, cuja dor tem sido imensa”.
Para conhecer mais sobre Aimé-Adrien Taunay e parte de seu legado, acesse http://www.adrientaunay.org.br/. O site é resultado de uma parceria entre o IHF e o Museu Paulista da Universidade de São Paulo com o intuito de digitalizar e restaurar o manuscrito "Caderno de notas de Aimé-Adrien Taunay...", pertencente ao acervo do MPUSP.
IHF disponibiliza o download do e-book “Museu Paulista e as memórias das narrativas de Aimé-Adrien-Taunay e Hercule Florence”.
Em busca de conhecer os costumes dos povos nativos e de amostras da fauna e da flora do interior do Brasil os viajantes percorreram ao todo quase 17 mil quilômetros entre 1821 e 1828
Realizada a partir de aquarela de Hercule Florence, a tela “Moagem de cana de Benedito Calixto” pode ser vista na exposição “Mundos do Trabalho”