Tarde do primeiro dia do evento reuniu especialistas que estiveram em Évora, Portugal, para a realização das análises físico-químicas dos objetos fotográficos de Hercule Florence
A tarde do dia 23 de maio começou com a confirmação científica do pioneirismo fotográfico de Hercule Florence durante o Seminário Internacional Cento e Noventa Anos dos Experimentos Fotográficos de Hercule Florence. Na “Apresentação das Análises”, os cientistas Art Kaplan (Getty Conservation Institute) e António Candeias (Laboratório HERCULES/Universidade de Évora) explicaram os métodos usados e os resultados alcançados, a partir das análises realizadas no Laboratório HERCULES, durante uma semana, em junho do ano passado.
Art Kaplan afirmou que o diploma maçônico é uma imagem produzida à base de prata e os rótulos de farmácia à base de ouro e que ambas se encontram num estado notável, 190 anos após a sua produção.
No caso do diploma, os cientistas tiveram oportunidade de comparar o objeto fotográfico com um desenho idêntico, destacando um pormenor que dá conta das capacidades técnicas mas também artísticas de Hercule, bem como da sua consciência do que estava a produzir: na fotografia do diploma, na parte inferior, existe um texto, de natureza fotográfica, que se lê linearmente, o que significa que foi inscrito na matriz de forma invertida, algo extremamente difícil. Por outro lado, o conteúdo desse texto dá indicações para futura conservação daquela imagem, relativas à sua fotosensibilidade e aos métodos de preservação. “Talvez Hercule Florence tenha sido o primeiro conservador da História”, afirmou Art Kaplan. O cientista indicou ainda que existem outras palavras no diploma, mas estas manuscritas e não produzidas por meio da luz, e neste Hercule indica que produziu aquela imagem sete anos antes da divulgação do daguerriótipo.
Sobre os rótulos, António Candeias explicou que os equipamentos usados permitiram um mapeamento químico total da imagem, varrendo toda a superfície e demonstrando que o desenho foi impresso por meio da fotossensibilidade do ouro, o que se confirma pela mesma análise em relação a outros componentes. “Foi o uso mais amplo destas técnicas aplicado a fotografias”, afirmou Art Kapan.
Os cientistas explicaram ainda que fizeram também imagens aos papéis utilizados por Hercule Florence, podendo confirmar que um deles é de 1829, de acordo com a marca de água, e que a sua constituição química coincide com os papéis britânicos muito comuns no século XIX.
Nas análises realizadas, os cientistas não puderam encontrar evidência do uso de amônia ou urina, enquanto forma de fixação das imagens, conforme vem descrito nos textos deixados por Hercule Florence. Essa confirmação exige outro tipo de análises, eventualmente invasivas, ou experiências a realizar em réplicas, usando câmaras de envelhecimento, trabalho futuro para conhecer melhor estas imagens.
Art Kaplan sublinhou que estas não são fotografias produzidas com uma câmara, mas por contato, um método fotográfico que coincide com as preocupações de Hercule para encontrar uma forma de reprodução de texto e imagem fácil e portátil. Da plateia, Antonio Florence, citando a obra “Cartografia Migrante. Hercule Florence da Nizza al Brasile (1804-1879)” da Professora Chiara Vangelista, lembrou que o seu tetravô publicou um anúncio no jornal oferecendo “cursos de impressão pela luz”, e que deste modo era possível a reprodução de cem imagens por dia, um feito notável no campo da impressão, utilizando técnicas fotográficas.
Em sua palestra, Grant Romer abordou o aspecto emocional da personalidade de Hercule Florence, as suas buscas, os seus sonhos, as suas descobertas e conquistas. Para o especialista em conservação, pensar quem foi o primeiro a descobrir a fotografia é uma falsa questão, vários pioneiros foram avançando na concretização da criação desta tecnologia, em diferentes tempos e lugares, um caminho “para ampliar as capacidades humanas”. Referiu a litografia como uma invenção muito relevante, na revolução da imagem em marcha desde o século XIX: era também uma forma de impressão química, mas não através da luz. Grant Romer enfatizou que esta tecnologia, do conhecimento de Hercule Florence, implicava meios fisicamente pesados, ao contrário da técnica inventada por Hercule, mas perseguia o mesmo objetivo, importante na sua forma de pensar: ampliar a divulgação de informação escrita e imagética. Os custos e o acesso aos materiais eram também relevantes para os inventores e condicionavam as suas conquistas. Grant terminou a sua apresentação mostrando um retrato de Hercule Florence em daguerriotipo, permitindo à audiência contemplar o rosto de um homem que marcou a História.
A tarde terminou com a apresentação de Ariadna Romer que apresentou algumas das experiências feitas pelo casal, a partir das descrições de Hercule Florence, demostrando como construiu as suas câmaras escuras e que tipo de imagens elas poderiam produzir. Ariadna enfatizou que “a história de Hercule Florence não está ainda fechada” e que há muito para saber sobre o inventor, cujo lado social, de intervenção na sociedade também referiu.
Ainda, Ariadna sublinhou a importância histórica das suas experiências e pensamento e apelou a que se desenvolvam mais esforços no conhecimento sobre como conservar os objetos fotográficos que nos deixou. Estes são alguns dos poucos produzidos naquela época que chegaram aos dias de hoje, a nível mundial, conforme também afirmou Grant Romer.
Confira todas as palestras do Seminário Internacional 190 Anos dos Experimentos Fotográficos de Hercule Florence, realizado nos dias 23 e 24 de maio no IMS Paulista
Manhã do primeiro dia do Seminário Internacional Cento e Noventa Anos dos Experimentos Fotográficos de Hercule Florence traz análises científicas realizadas em fotografias do século XIX
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